La Cría

25 de nov. de 2024
Devaneios Breves
de Cândice Lorenzoni
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Devaneios de vento
Soube de um dia em que você esteve aqui
E eu que achava que te conhecia
Sobrou vento e vazio
Esporro
Um ódio casto
Talvez um dia eu aprenda a olhar e ver nada
Devaneios de carne e osso
Não confie na ordem desta escrita, entre em jogo com ela. Desfaça-a, retorça-a, desfoque-a, bagunce-a…
O corpo interessa
O corpo me interessa
Um corpo que interessa
Teu corpo me interessa
Um corpo que interessa
Meu corpo te interessa?
Teu corpo te interessa
E o resto?
O resto do corpo?
E AINDA HÁ QUEM DUVIDE DO CORPO...
O meu tem pressa
O teu me atravessa
Dou minha palavra
Palavra de honra
Palavra por palavra
Que palavra massacrada habita a língua?
Sábia decisão é dizê-la, entre dentes, para frente, articulada, mastigada, empolada
Já vem com mágoa embutida
Se faz viva
Atreva-se
Devaneios de um processo de Tese
Era preciso fazer alguma coisa. Eu… paralisada.
Não dá para brincar com o tempo. Silêncio. Já passou...
Sumíamos cada dia um pouco nas nossas estranhezas.
Tão presente, tão em carne viva.
Eu olhava você olhava. Não víamos nada.
De repente abro uma porta e sou invadida por uma canção.
Mas qual canção era?
Quem cantava? Éramos nós?
Já não nos ouvíamos mais.
O Que Falar Desse Que Diz: O Corpo
Uma descrição… uma inscrição no espaço.
Deitada em posição fetal - as pernas dobradas e as duas mãos cobrindo o rosto.
Não sei onde começo e termino.
As partes do corpo vão se apresentando umas às outras, promovendo pequenos encontros que escrevem no espaço uma melodia.
A melodia que anuncia, tímida o momento em que uma mão qualquer, toca o tecido.
Seriam os movimentos coloridos de um caleidoscópio
QUE BAILADO MORNO DANÇAM A LUZ E A SOMBRA
ELA ESTAVA NOS BRAÇOS DELA
ANINHADA TREMULOU UM MEDO QUE ASSOMBRAVA O PEITO
ELA NOS ABRAÇOS DELA...
FIM COMEÇO ETERNO
Cândice Lorenzoni, artistaprofessora, teatreira e cinéfila.