La Cría

30 de nov. de 2024
O Casamento ou a união
de Daiani Cezimbra Severo Rossini Brum
Necessidades técnicas
Da/e/o palhaça/e/o:
a) Malabarismo em nível intermediário;
b) quedas e tropeços em nível intermediário;
c) mágica em nível iniciante.
Do espaço:
Iluminação cênica geral no palco e público parcialmente iluminado. Se possível, refletores vermelhos sobre o público para momentos românticos. Equipamento para reprodução de mídias em áudio (caixas de som que contemplem a cobertura sonora do espaço e equipamento para operação das trilhas sonoras). Biombo ou entrada ao fundo do palco. Não há utilização de cenários.
Sonoplastia:
1. Base instrumental de funk;
2. Careless Whisper, versão de George Michael;
3. Base instrumental de tango;
4. Careless Whisper, versão de George Michael;
5. Base instrumental de forró;
6. Careless Whisper, versão de George Michael;
7. Besame mucho, versão de Cesária Évora;
8. Marcha Nupcial;
9. I Will Survive, versão de Gloria Gaynor.
Observação: esta sonoplastia busca por melodias e/ou canções que remetam ao universo romântico proposto pela palhaça/e, sendo postas aqui como registros e/ou sugestões sempre passíveis a reajustes e a novas perspectivas.
Descrição da cena
A cena se passa em um palco de teatro, convencional ou não. A palhaça entra em cena com o objetivo de se apresentar para o público, que está acomodado em suas cadeiras e aguarda sua cena de malabarismo. Ela se utiliza, durante todo o tempo de sua permanência no palco, de linguagem não verbal, sendo a ação física condutora da dramaturgia aqui proposta.
Inicia-se a primeira música (instrumental de funk) e, a partir desse sinal, a palhaça tenta encontrar, atrás da cortina e nervosamente, a entrada do pano de fundo da cena para o palco. Quando ela o consegue, acompanhando a música, baixa a cabeça por dois segundos, olhando para o chão com os braços esticados para abrir a cortina. Na virada da música, joga a cortina para trás e vem desfilando no exagerado estilo Drag Queen (a referência aqui utilizada foi a drag norte-americana Detox, participante do programa Rupaul’s Drag Race, especialmente o episódio final da sexta temporada desse programa de televisão, quando ela desfila em um traje preto e branco). Sempre no ritmo da música e perto da plateia, a palhaça observa as pessoas, sobretudo uma delas, a quem olha de cima a baixo e dá uma virada que envolve o ombro, a cabeça e o estalar de dois dedos, ainda em referência aos movimentos característicos da cultura Drag Queen.
Voltando ao fundo do palco, a palhaça, ainda, vira-se duas vezes no ritmo da música, no intuito de olhar para o público; então, volta para o pano de fundo e pega três bolas de malabares. Apresenta-as e realiza uma sequência que dialoga com a primeira música. Em caso de queda das bolinhas, ela as junta, jogando com o público: como se a culpa fosse das bolinhas, ela as ameaça, torcendo-as furiosamente e triangulando o olhar, isto é, olhando, em forma de reação, com emoção inversa ao público, a quem se dirige com afeto e delicadeza nesse momento.
Durante a sequência de malabarismo em nível intermediário, a palhaça coloca uma das bolinhas no queixo enquanto estende o braço com outra bolinha na mão, olhando fixamente nos olhos de uma pessoa da plateia com o gênero distinto do seu, por exemplo, um homem, apaixonando-se por ele imediatamente. Entra a segunda música (Careless Whisper): se possível, acendem-se luzes vermelhas na plateia, de modo que a palhaça demonstra, com gestos, escolhê-lo para interagir, trazendo-o para a cena. A bolinha age como pretexto para a interação. A palhaça faz com que o espectador siga a bolinha com a cabeça, como em uma operação de hipnose. O espectador compreende a proposta e passa a seguir os movimentos da bola, posicionando-se no centro do palco.
Entra a terceira música (base instrumental de tango) e a palhaça, bruscamente, olha para o espectador que está no palco e lhe estende a mão, convidando-o para dançar. Dançam por alguns instantes: a Palhaça Brum exagera nos movimentos de tango, coreografados e treinados anteriormente por ela, e tenta se jogar no colo do espectador, que pode segurá-la ou deixá-la cair. Ainda em clima dançante, separam-se e a palhaça começa a realizar malabares com o espectador, testando seus reflexos ao jogar uma boa para que ele a pegue, seduzindo-o com o malabarismo. Em determinado momento, a palhaça volta a fazer a pose com a bola no queixo e com o braço esticado (Figura 2), olhando para outro homem do público.
Entra a quarta música (Careless Whisper). Ela se dirige para outro espectador da plateia, batendo com o rosto em uma parede ou tropeçando seja no chão, seja nas arquibancadas. Repete o jogo da hipnose; em caso de muita distância, ela joga a bolinha para que ele a pegue e venha devolvê-la, ou para que ele a jogue de longe, enquanto ela finge que a bolinha a acertou desprevenida. Ela faz sinais para o primeiro espectador escolhido, que a espera no palco, pedindo-lhe que continue a esperá-la ali ou o conduzindo de volta para o palco, caso ele tente sair.
Ao chegar ao centro do palco com o novo participante, entra a quinta música (base instrumental de forró). Ambos, a palhaça e o novo participante, dançam e, animadamente, a Palhaça Brum realiza movimentos sensuais e atrapalhados de forró. Depois de alguns instantes, ela sugere que os dois espectadores que estão no palco dancem entre si: de fora, a palhaça incentiva-os a dançarem e lhes sugere movimentos circulares com o quadril. Começa, então, a fazer malabares entre os dois homens, jogando para eles as bolinhas e recebendo-as de volta, fugindo quando jogadas em altura suficiente para gerar o efeito de fuga. Após essa sequência de malabarismo, a Palhaça Brum realiza a posição da bola no queixo e da mão esticada pela terceira vez, pedindo calma para os homens no palco; ao público, atira-se ao chão, sensualmente, imitando uma tigresa. Levanta-se, sinalizando para que os homens do palco a esperem onde estão, e repete o jogo de hipnose, dessa vez com uma espectadora ou com uma pessoa do mesmo gênero, que é conduzida ao centro do palco.
Entra a sétima música (Besame mucho) e a palhaça, delicadamente, atira as bolinhas para trás, colocando as mãos da espectadora em sua cintura e as suas próprias mãos no ombro dela. Olha para o público, organiza as mãos para gerar mais proximidade. Dançam “coladinhas”, até que a Palhaça Brum dá uma volta com a parceira de dança, ficando de lado para o público quando a música diz:
– Besame...
Ela olha para o público, que reage à música, olha para a espectadora, que ri, e retribui-lhe o riso; com isso, dá ênfase à música:
– Besame mucho...
Olha para o público, sorri com a frase, olha para a espectadora, aproxima-se mais dela para a dança e deita sua cabeça no ombro da mulher. Gesticula, nessa posição, para que os homens também dancem, separando-se da moça para lhes mostrar como devem fazer, com as mãos no ombro e na cintura. Se necessário, dirige-se aos dois e coloca-os na posição desejada. Dançam os dois pares no palco, romanticamente. Ao sinal da Palhaça Brum, as três outras pessoas se dirigem ao fundo da cena, formando uma linha no fundo do palco, com todas as pessoas lado a lado, de frente para a plateia.
Os dois homens estão de um lado; a palhaça e a espectadora de outro. A palhaça faz alguns movimentos, incentivando as pessoas para a repetição coreográfica e experimentando alguns movimentos em plano alto, médio e baixo, com giros e viradas lentas para que as pessoas a acompanhem. Ao sinal da Palhaça Brum, que ergue as mãos como parte da coreografia, entra abruptamente a oitava música (marcha nupcial). A palhaça, espantada, olha para o público sem saber o que fazer; olha para os dois rapazes, simpática, analisando-os de cima a baixo, sem sair do lugar; olha para moça, rapidamente demonstrando estar apaixonada. A palhaça dá dois passos para o lado, enganchando seu braço no braço da espectadora, e os homens são convidados, por gestos, a fazerem o mesmo entre si, mantendo o jogo da imitação dos gestos da palhaça. Em seguida, a palhaça faz duas mágicas simples de aparição de flores (no caso, aqui, são utilizadas uma flor com elástico na varinha e uma flor com ímã no vasinho e na varinha), entregando uma flor para cada dupla.
Nessa disposição, com dois pares de braços dados, a palhaça começa um desfile nupcial, acompanhada/imitada pelas pessoas que estão na cena. Ao chegar à frente do palco, todos se posicionam frontalmente: a palhaça, em um giro de 360 graus em torno de si mesma, pega as mãos da espectadora, posicionando-a de lado para o público e de frente para si. Sugere que os homens façam o mesmo. Manda um beijo para um dos homens, os quais, de mãos dadas, olham para a palhaça em busca de novas instruções. Com gestos, ela lhes sugere que se beijem, olhando também para a espectadora, a qual segura as suas mãos. A palhaça, então, pergunta-lhe se pode beijá-la, realizando uma interação com o público, que a encoraja ao beijo. Após a confirmação da espectadora, a palhaça toca-lhe com a sua boca os lábios, assim como incentiva que os homens façam o mesmo entre si. Ficam nessa posição por cinco segundos, até que todas e todos levantam as mãos. Entra a nona música (I Will Survive). A palhaça, curvando-se até o chão, agradece a participação dos espectadores, encaminhando-os para seus lugares. Faz exatamente o mesmo com a espectadora, levando-a, porém, para o fundo da cena e se despedindo da plateia.
Ficha técnica:
Argumento: Daiani Brum e Karla Concá (Marias da Graça, RJ)
Direção: Karla Concá
Orientação de pesquisa: Profa. Dra. Maria Brígida de Miranda
Atuação: Daiani Brum como Palhaça Brum
Iluminação e sonoplastia: Daiani Brum e Karla Concá
Apoio artístico e técnico: Cia Lunáticas de Palhaças
Duração: 10 minutos
Classificação indicativa: Livre.
Link para acesso no Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=8LbwLNplq0k&t=2105s (a partir dos 35 minutos do
vídeo).
Daiani Cezimbra Severo Rossini Brum
Trabalhadora da cultura, palhaça e pesquisadora. Pós-Doutora em Artes Cênicas pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU, 2023), sob orientação da Profa. Dra. Ana Elvira Wuo, com bolsa PDJ (Chamada 25/2021); Doutora em Teatro pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC, 2021), sob orientação da Profa. Dra. Maria Brígida de Miranda; Mestre em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN, 2017), sob orientação da Profa. Dra. Karenine Porpino; Bacharela em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, 2012). Formou-se em palhaçaria na Escola de Palhaços dos Doutores da Alegria (2014), sob orientação de artistas e professoras/es como Thaís Ferrara, Roberta Calza, Heraldo Firmino e Soraya Saíde. Dedica-se à atuação palhacesca periférica, voltada para o Sistema Único de Saúde (SUS), e a ações artísticas, teóricas, formativas e de pesquisa na área de Artes Cênicas. Tem experiência em interpretação teatral, máscaras, iluminação cênica, pesquisa e palhaçaria, com ênfase na atuação de mulheres e nas poéticas dos contextos hospitalares. É organizadora do livro Palhaças na Universidade (EDUFSM, 2021), juntamente com a Profa. Dra. Ana Wuo. É também coordenadora editorial e fundadora do coletivo Praxila Editorações (2023), voltado para publicações acadêmicas e artísticas em Artes Cênicas, com ênfase em Teatro.
Contato: daianisevero@gmail.com